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Dúvidas linguísticas
trar-se-ão ou trazer-se-ão?
Sobre a conjugação do verbo ‘trazer’, no futuro do indicativo, tenho a seguinte dúvida:
(1)
Trar-se-ão a Portugal.
ou
(2)
Trazer-se-ão a Portugal
.
Será que a primeira hipótese está correcta? Não consigo encontrar qualquer tipo de referência, no entanto surge-me intuitivamente.
O verbo
trazer
é irregular, nomeadamente, para o caso que nos interessa, nas formas do futuro do indicativo:
trará, trarás, traremos, trareis, trarão
(se se tratasse de um verbo regular, as formas seriam
*trazerei, ..., *trazerão
[o asterisco indica forma incorrecta]).
Quando é necessário utilizar um pronome pessoal átono (ex.:
me, o, se
) nas formas do futuro do indicativo (ex.:
telefonará
) ou do condicional (ex.:
encontraria
), este pronome é inserido entre o radical e a desinência do verbo (ex.:
telefonará + me
=
telefonar-me-á; encontraria + o = encontrá-lo-ia
).
Como se trata da flexão irregular
trarão
, a forma correcta com o pronome deverá ser
trar-se-ão
e não *
trazer-se-ão
, que é uma forma incorrecta.
discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre
Nota-se hoje alguma tendência para se inutilizar as regras do discurso indirecto. Nos textos jornalísticos sobretudo, hoje quase que ninguém mais respeita os comandos gramáticos regedores do discurso indirecto. Muitos inclusive argumentam tratar-se de normas "ultrapassadas". Daí vermos frequentemente frases do tipo
O ministro X prometeu que o seu governo vai/irá cumprir os prazos/irá cumprir
, ao invés de
ia/iria cumprir
, como manda a Gramática conhecida até hoje. De que lado estará então a correcção? Ou seja, as normas do discurso indirecto enunciadas nas diferentes gramáticas ainda valem ou deixaram de valer?
As chamadas regras para transformar o discurso directo em discurso indirecto mantêm-se, e têm na
Nova Gramática do Português Contemporâneo
(14.ª ed., Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998, pp. 629-637) uma sistematização bastante completa.
No entanto, o discurso indirecto livre parece estar a ser cada vez mais usado na imprensa, consciente ou inconscientemente.
Esta forma de discurso é muito usada na oralidade e em textos literários que pretendem diminuir a distância entre o narrador e o discurso relatado e tem como característica exactamente a fusão do discurso directo com o discurso indirecto.
Disso é exemplo a frase apontada (
O ministro X prometeu que o seu governo vai/irá cumprir os prazos
), em que o início tem claramente características de discurso indirecto, como o enunciado na 3.ª pessoa (
O ministro X prometeu
) ou a oração subordinada integrante dependente de um verbo que indica declaração ou afirmação (
prometeu que
), e a segunda parte tem claramente características de discurso directo, como o tempo verbal no presente ou no futuro (
o seu governo vai/irá cumprir
) em vez de no pretérito imperfeito ou no condicional, como seria normal no discurso indirecto (
o seu governo ia/iria cumprir
).
Para melhor exemplificar a noção de discurso indirecto livre, por contraste com o discurso directo e com o discurso indirecto, colocamos as três frases a seguir.
Discurso directo:
O meu governo vai cumprir os prazos.
Discurso indirecto:
O ministro X prometeu que o seu governo ia cumprir os prazos.
Discurso indirecto livre:
O ministro X prometeu que o seu governo vai cumprir os prazos.
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Palavra do dia
gil-mendes
gil-mendes
(
gil·-men·des
gil·-men·des
)
nome masculino de dois números
[
Botânica
]
[
Botânica
]
Variedade de pêssego de pele branca e polpa açucarada.
Origem etimológica:
Gil Mendes
,
antropónimo
.